Hiran é rapper, cantor, compositor, ator e diretor assumidamente gay, de Alagoinhas, interior da Bahia. O artista vem ganhando notoriedade no cenário musical nos últimos anos, acumulando milhões de views no YouTube e plays em seu canal no Spotify. Apadrinhado por Caetano Veloso, com quem regravou uma nova versão do clássico “Tropicália”, Hiran já lançou três discos e fez parcerias de sucesso com Glória Groove, Baco Exu do Blues, Tom Veloso, Carlinhos Brown e Ivete Sangalo. Sua presença tem sido marcante em festivais e palcos ao redor do Brasil, e ele já realizou duas turnês internacionais, em 2022 e 2023.
Em entrevista à Casa Natura Musical, Hiran compartilhou suas influências, processos criativos e perspectivas sobre a música e sua relação com as lutas sociais. Quando questionado sobre como se definiria em uma rima, Hiran respondeu de forma incisiva: “Vocês são o jogo do bicho e eu sou a bicha do jogo,” citando uma linha de Rico Dalasam no CyphAir. Essa referência não é por acaso, pois Hiran revela que Rico Dalasam e suas produções iniciais foram fundamentais para que ele encontrasse sua própria identidade musical.
O processo de composição de Hiran varia de projeto para projeto. Seu primeiro trabalho surgiu de uma necessidade urgente de expressão, enquanto o segundo foi criado com mais calma e reflexão. Já o terceiro álbum teve um caráter terapêutico, evidenciando a flexibilidade e a profundidade com que ele aborda sua arte. “Cada projeto vem de uma forma diferente… sempre vem de inquietações e talvez esse seja o padrão”, explica ele.
Seu primeiro EP, “Tem Mana no Rap”, foi um verdadeiro grito de libertação. Hiran descreve como se sentia preso, incapaz de fazer o que queria, até que, aos 21 anos, finalmente escreveu e mostrou um verso. “Eu não queria mais me sentir assim… foi meio que um cuspe, um grito mesmo,” diz ele, destacando que o trabalho não tinha uma única mensagem, mas sim um senso de libertação.
A criação do álbum “Galinheiro” foi influenciada pelas experiências adquiridas durante as turnês e pela mudança para o Rio de Janeiro. Este álbum foi uma análise do que ele viu e vivenciou, marcando uma transição do grito inicial para uma observação mais ponderada. O álbum seguinte, “Jaqueira”, foi profundamente influenciado pela pandemia, resultando em um trabalho mais introspectivo e pessoal. “Foi um processo terapêutico… foi muito verdadeiro para mim,” afirma Hiran.
Hiran acredita firmemente no poder da música para influenciar mudanças sociais. Ele compartilha como ver Rico Dalasam pela primeira vez foi um momento transformador, mostrando que era possível realizar um sonho que antes parecia irreal. “Hoje em dia outras pessoas me dizem isso… é um processo que vai acontecendo e hoje em dia é mais fácil de imaginar e sonhar,” reflete ele sobre a evolução da representatividade LGBTQIAPN+ na música.
Sobre seus próximos trabalhos, Hiran promete autenticidade e experimentação. Ele tem buscado um processo criativo mais colaborativo, trabalhando com novos produtores e artistas que admira. “A mesmice me deixa meio frustrado, então com certeza vem coisas diferentes,” diz ele, animado com as novas possibilidades.
Atualmente, Hiran está ouvindo muito Melly, além de country norte-americano, com Kacey Musgraves sendo a artista mais tocada no seu Spotify nos últimos meses. Ele também destaca o álbum “Cowboy Carter” como uma resposta às suas preces musicais.
Quando se trata de feats dos sonhos, Hiran revela que já teve a oportunidade de trabalhar com muitos de seus ídolos, como Ivete, Caetano, Gloria Groove e Carlinhos Brown. No entanto, ele menciona que adoraria colaborar com a artista internacional Nathy Peluso.
Hiran conclui a entrevista ressaltando o impacto da música na luta LGBTQIAPN+, destacando como a música foi uma ferramenta crucial para seu autoconhecimento na adolescência. “A música me salvou e eu tenho certeza que vai continuar salvando muitas pessoas,” declara ele, enfatizando a importância de continuar a lutar por representatividade e espaço na cena musical.
Texto por Renata Rosas para a Casa Natura Musical