Nos bastidores da Casa com PLUMA e Adorável Clichê

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Em julho, recebemos Pluma e Adorável Clichê, bandas do novo indie brasileiro, no Frequências, nosso projeto que reúne dois shows imperdíveis em uma noite só. 

E no camarim, a gente aproveitou para conversar sobre os discos mais recentes de cada grupo, Não Leve a Mal sonhos que nunca morrem, respectivamente, que completaram um ano no último mês.

Formada por Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina ReisPluma (Rockambole) é fruto de um trabalho de conclusão de curso da Faculdade Belas Artes, em São Paulo, que deu mais do que certo. Com faixas como “Quando Eu Tô Perto” e “Corrida!”, o álbum de estreia da banda — Não Leve a Mal — fez aniversário, mesclando neo-soul, r&b e uma experimentação marcada por sintetizadores e a ausência de guitarras.

Já Adorável Clichê (Balaclava Records), diretamente de Blumenau, é resultado da união de então adolescentes cheios de ideias. Hoje, a formação conta com Gabrielle Philippi, Marlon Lopes, Gabriel Geisler e Felipe Protski. Composições íntimas que passeiam entre dreampop e shoegaze se desenrolaram no disco sonhos que nunca morrem, que também fez um ano.

Vem ler nosso papo sobre fazer música num mundo pós-pandemia, as semelhanças e diferenças entre as cenas indie paulistana e catarinense e as dores e delícias de ter uma banda.

Casa Natura Musical: O que mais gostaram de viver no último ano com o novo álbum?

Marina Reis (Pluma): Acho que o álbum abriu muitas portas. A gente tocou em muitos lugares que nunca imaginaríamos. Teve vários shows incríveis: a gente tocou no Lolla, abriu para o Crumb… Também conseguimos viajar para lugares que ainda não tínhamos ido — e eu acho que foi muito importante. Foi a primeira vez que ficamos tanto tempo trabalhando num projeto. E depois colocar ele no mundo e tirar um pouco as expectativas de dentro da gente… Não dá para controlar muito, mas é sempre muito bonito ver como as pessoas acabam o interpretando. Para mim, foi ótimo. A gente conseguiu tocar e ver as pessoas cantando, isso foi incrível.

Lucas Teixeira (Pluma): O álbum foi importante para a gente amadurecer um pouco o show. Acho que, com o álbum e com a experiência de preparar um show para o Lolla de uma hora — um show de festival, que é diferente, para um público que ainda não necessariamente conhece e tal — fez com que a gente voltasse esse olhar para dentro, para entender o que queríamos entregar no show, ressignificar um pouco o álbum ao vivo, mudar algumas dinâmicas, posições no palco, arranjos… Então, acho que foi bem importante também para um amadurecimento da estética da banda.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Foi um ano em que a gente se dedicou mais para shows. Então, o que a gente mais gostou foi poder dar rolê e tocar, porque fazia muito tempo que a gente não fazia isso, né? Músicas, a gente já estava fazendo desde a época da pandemia. Tivemos vários reveses aí: saídas de pessoas… Mas agora, com o lançamento do álbum, a gente pôde voltar a tocar, que era uma coisa que a gente não fazia há muito tempo. Viajar, tocar, conhecer pessoas… Foi muito legal.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Principalmente entrar em contato com o público e ver como algo que a gente fez tão sozinho, no quarto do Marlon, ressoa com tantas pessoas de formas tão diferentes e que a gente nem consegue imaginar que poderia. Pessoas que passaram por momentos difíceis na vida ou superaram coisas…

­CNM para Adorável Clichê: Vocês se sentem, de alguma forma, afastados da “cena musical”?

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Dá para fazer a coisa em outros lugares, mas sempre fica mais difícil. Quando tem show, você tem que se deslocar, tem a grana, tem o tempo, todo mundo aqui trampa com outras coisas — eu trabalho em uma fábrica, então, para mim, é complicado, tenho que trocar um feriado, pegar banco de horas. Tem essas dificuldades, mas eu acho que ainda vale a pena, porque tem um lado bom, que é não morar em São Paulo.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Algo que sinto, estando afastada da cena, entre aspas, é que dá um respiro para a gente pensar mais de forma autônoma no que está fazendo. Eu sinto que a gente recebe menos influências. Porque, querendo ou não, a gente troca bastante referências, músicos e tudo mais — e também entre si —, o que gera meio que uma micro bolha entre nós. Acho que existe o lado negativo, que é a dificuldade de acesso a muitas coisas, principalmente pessoas e recursos. Mas existe um lado positivo também, porque a sua experiência acaba se tornando um pouco diferente da dos outros.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): O lado ruim é não poder fazer o que a gente fez agora há pouco, que é trocar a experiência e falar: “Meu, é isso que rola com a gente também”. Daí tu pensa: “Caramba, os caras estão no mesmo rolê que nós”. E ali é bem deslocado, em Blumenau.

­CNM para Pluma: A banda é, de certa forma, um TCC que deu mais do que certo. Como foi a transição da faculdade para o trabalho?

Guilherme Cunha (Pluma): Foi meio natural, porque o Lucas já tocava n’O Grilo, que era com a Rockambole, a gente saiu do TCC com as coisas gravadas e já tinha gostado muito do resultado daquilo. Depois, vimos o que a gente tinha e falamos: “Pô, isso aqui está bem trabalhado, é legal para botar no mundo, a gente não pode engavetar isso como um TCC e esquecer essa história”. E aí, com a proximidade da Rockambole, foi meio natural.

Marina Reis (Pluma): A faculdade é um universo, e o mundo real é outro, né? Então, quando a gente começou a tocar, de fato, percebemos que ainda éramos bem crus. A gente não tinha muita experiência de palco. Começamos a fazer shows grandes sem ter experiência, porque, como a gente lançou música na pandemia, a gente foi meio que sendo escutado online. Fomos nos profissionalizando no decorrer da prática e nos palcos.

CNM para Pluma: E vocês acham difícil, hoje em dia, sair um pouco dessa dinâmica de faculdade, de ter que fazer um projeto para ganhar nota e tudo mais?

Lucas Teixeira (Pluma): Acho que não necessariamente, porque, hoje em dia, você tem muitos mecanismos a seu favor. Hoje em dia, você não precisa de tanta coisa para conseguir gravar e lançar as suas coisas. De certa maneira, a faculdade conseguiu prover para a gente um lugar muito legal para gravarmos as nossas músicas. E existe uma proximidade muito natural de um selo musical, que, apesar de não ser grande, de ser desse cenário independente, alternativo, e de não estar ligado a nenhuma gravadora, conseguiu o lançamento das músicas e todo o planejamento, marketing, enfim…

Marina Reis (Pluma): Mesmo na faculdade, acho que não teve uma pressão de fazer algo para impressionar, necessariamente. A gente conseguiu fazer de forma despretensiosa. Isso meio que continuou depois.

CNM para Adorável Clichê: Vocês têm outros trabalhos além da banda. Pensam em, um dia, dedicarem-se apenas ao grupo?

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Não, porque eu tenho muitas paixões. Então, eu nunca vou parar de desenhar. Nunca vou parar de escrever minhas coisas. Talvez eu escreva algo em uma mídia diferente. O Fê também nunca vai parar de desenhar.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Até porque se ela parar de fazer arte, acabaram as capas do álbum e as artes de single, porque é ela quem faz. Os dois [Gabrielle e Felipe] fazem o projeto gráfico das coisas.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Nós dois fizemos o projeto gráfico. Teve várias capas de álbum e single que fiz também. Para outras coisas, a gente contratou ilustradores que admiramos. E eu acho que as coisas caminham juntas.

Felipe Protski (Adorável Clichê): Pois é, aquela coisa: “Se eu parar de criar, é o dia que irei morrer”. Não é só porque a gente tem banda que a gente precisa parar de fazer as outras coisas. A banda é mais um lado da nossa personalidade. Não quer dizer que a gente não quer ter banda.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Mas eu quero ser músico mesmo. F*da-se. É isso, acho que a resposta é essa.

CNM para Lucas (Pluma): Você já tinha mais experiência, digamos assim, do que os outros. Como você trouxe essa sua experiência para dentro do grupo, sem ofuscar ninguém? E como vocês receberam isso?

Lucas Teixeira (Pluma): É engraçado, porque eu tinha experiência entre muitas aspas. A Pluma começou em 2019 e, por sorte, também era o momento em que a Rockambole estava começando a se expandir, conhecendo mais parceiros e fazendo eventos maiores. O Grilo também estava começando a ganhar um pouco mais de projeção. Então, foram duas coisas rolando ao mesmo tempo.

Eu estava tendo muitos aprendizados por um lado e, por outro, outro projeto estava se iniciando. Mas acho que o trabalho foi muito de trazer ensinamentos que eu já sabia d’O Grilo e medir um pouco as coisas, esses ensinamentos, porque, apesar de a gente estar no mesmo selo, são mercados diferentes, né? São nano-mercados, micro-mercados, diferentes, porque o som é diferente, o público-alvo é diferente, a comunicação das bandas é bem diferente.

Então, apesar de ter semelhanças, acho que rolou também esse lance do selo aprender com a banda, sabe? Porque acho que, para a Rockambole, foi a primeira vez que uma banda desse cenário um pouco mais alternativo, com um som para um público-alvo um pouco mais velho e com influências que não eram só rock, que tinham coisas que iam também para o R&B, para o soul, para o neo-soul, etc., estavam entrando ali no selo. Foi uma ajuda mútua, acho que os dois saíram ganhando nessa.

Marina Reis (Pluma): Acho que a gente sempre esteve muito aberto a escutar o que o Lucas tinha para contar.

CNM para Pluma: Como vocês se formaram todos juntos, no mesmo curso, como dividem as tarefas e não entram um no quadrado do outro?

Marina Reis (Pluma): A gente entra bastante no quadrado um do outro.

Guilherme Cunha (Pluma): Naturalmente, quando a banda foi ganhando outras proporções, a gente foi dividindo, entendendo o que cada um preferia fazer. Algumas coisas vão rolando mais naturalmente, algumas coisas a gente tem que parar e escolher o que cada um vai fazer, tem partes menos legais. Às vezes, a gente entra um pouco no quadrado um do outro, a gente sabe até onde entrar, até onde não. Acho que isso vai desde a parte mais burocrática até a parte artística e de criação. E isso vai mudando também, né? No começo, a gente não se conhecia. Querendo ou não, a gente se conheceu com… Todo mundo ali era maior de idade já e, do nada, você está num projeto que, em um ano, vira o projeto da vida de cada um, sabe? Então, foi tudo meio estranho. Teve esse processo da gente confiar mais um no outro. E isso vai mudando e se adaptando, mas sempre rola uma conversa.

Diego Vargas (Pluma): Rola bastante lavação de roupa.

Guilherme Cunha (Pluma): Mas a gente vai se adaptando e se ajudando. E é bem amigável.

CNM para Adorável Clichê: Qual conselho dariam para quem quer começar uma banda, dedicar-se à música?

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Se você quer lançar um álbum, lance um álbum. Se você quer fazer um show, faça um show. Não pense que tem que vir um dono de bar te pagar 10 mil reais para você tocar. Não, não, não. Seja você o tal do dono de bar, fale com alguém, faça um show, faça no Bar da Dona Ivone. A gente já tocou no Bar e Cancha da Dona Ivone.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Se tinha cerveja como pagamento, a gente era feliz.

Felipe Protski (Adorável Clichê): Vai e toca. O lance da criação também é que a única pessoa que impede você de criar é você mesmo. Então, pega e coloca a mão na massa. Tenha um senso crítico sobre o que você está fazendo também, porque, às vezes, você está fazendo algo que é uma porcaria — e você tem que saber isso. Mas não deixe de fazer.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Não adianta. Para ter boa arte, tem que ter arte ruim. Se fiz cagada nesse, no próximo eu faço melhor. Não tem que ficar se cobrando, se matando, sabe? Tipo, seja feliz.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Tem que partir do pressuposto de que é muito difícil ser um gênio. Então, todo mundo começa ruim. Todo mundo começa errando muito. E até quem faz coisas boas erra também.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Mas só quem faz, faz.

CNM para Adorável Clichê: Me digam um sonho que não realizaram, mas ainda não morreu.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Tocar fora do Brasil.

Gabrielle Philippi (Adorável Clichê): Tocar fora do Brasil e escrever um livro.

Marlon Lopes (Adorável Clichê): Quero trocar meu sonho: viver de música. Acho que é mais importante do que tocar fora do Brasil.

Felipe Protski (Adorável Clichê): É isso! E viajar pelo mundo.

CNM para Pluma e Adorável Clichê: Quem vocês querem ver em uma edição do Projeto Frequências?

Pluma: Mundo Video e Paira.

Adorável Clichê: Torvelim e Bomfim. Menção honrosa para Exclusive Os Cabides.

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