
Em 2024, Letícia Novaes, que dá vida à Letrux, percebeu que um marco estava se aproximando: entre ela e o primeiro show que fez na vida, quase 20 anos ficaram pelo caminho. “Me pareceu astral celebrar”, disse em entrevista à Casa Natura Musical, onde vai se apresentar no dia 13 de novembro, com o show Letrux Alternativa 20 Anos.
Nesse novo projeto, no entanto, não são só Arthur Braganti (teclado), Navalha Karréra (guitarra), Jessica Zarpey (percussão), Lourenço Vasconcellos (bateria) e Thiago Rebello (baixo) que sobem ao palco com Letrux. Ela também carrega canções de mais de vinte artistas brasileiros que marcaram as últimas décadas do cenário alternativo, num repertório que mescla nomes como Cansei de Ser Sexy, Cícero e Tulipa Ruiz.
“Não queria apenas celebrar minha trajetória, minha vida, queria fazer uma espécie de homenagem à cena independente, à cena que eu nasci e ainda me encontro”, compartilha. “Ter a ideia foi uma elaboração não tão complicada, eu sabia o que queria, mas colocar em prática foi mais difícil porque envolveu muita coisa, muitas músicas.”

Para decidir o que entraria ou não no show, se guiou por uma bússola emocional. Muitas das faixas, lançadas de 2000 a 2015, a cantora e compositora carioca nunca deixou de ouvir. Além disso, a intenção não era fazer covers. “Queria perverter os arranjos, trazer uma roupagem ‘letruxiana’ para essas músicas que a gente tanto ouviu e ama, com todo respeito aos artistas, claro.”
Embora o projeto tenha aberto um túnel para o passado, também trouxe novos desdobramentos. Pela primeira vez, Letrux produziu duas faixas – as outras ficaram a cargo da sua banda e dos convidados Thiago Vivas e Lucas Vasconcellos. O impacto de Letrux Alternativa 20 Anos ainda chegou ao público. “Recebi muitas mensagens de fãs mais jovens me agradecendo por terem conhecido algumas músicas, isso é a glória!”, comemora.
Quer saber mais sobre o que esperar do show na Casa? Escute a playlist que Letrux preparou e leia abaixo a nossa conversa completa com ela. O papo pela recepção de Letrux Alternativa 20 Anos, as mudanças na indústria musical nos últimos 20 anos e a importância das casas de shows no fomento da cena independente brasileira.
Casa Natura Musical: Antes desse projeto, alguns artistas que entraram na seleção do 20 Anos Alternativa já deixavam rastros pela sua obra. É o caso de Noporn, referência do Letrux em Noite de Climão, e da Lovefoxxx, vocalista do CSS, que participa de “Fora da Foda”, faixa do seu segundo disco, Letrux aos Prantos. Para você, criar está sempre ligado ao que está acontecendo ao seu redor?
Sou uma pessoa que sabe circular, risos. Não queria me citar, mas me citei. Acho que consigo tanto ser nostálgica e admirar o passado, quanto consigo ter noção periférica e saber o que está acontecendo ao meu redor por agora, e também consigo ter noção de futuro, do que vai chegar. Criar é um pouco um equilíbrio entre tudo isso, sinto.

Casa Natura Musical: Quando a gente pensa na indústria musical daquela época, era um período de muitas mudanças, com a mídia física perdendo força e o digital assumindo o protagonismo. Como você interpreta o impacto disso na sua produção e na dos seus pares?
Há aspectos positivos mas também negativos, como tudo na vida. Houve uma liberdade forte em não ter mais rabo preso com gravadora, coisas assim. Teve esse momento mais doido, livre, porém ao mesmo tempo, não dá pra negar que muita gente só conseguia gravar por conta da gravadora. Não sabíamos como conseguir dinheiro para gravar nosso trabalho para as pessoas nos ouvirem e saber que a gente existia. Foi por aí que surgiu o financiamento coletivo, o crowdfunding, até. Eu fico triste quando entro no táxi, Uber e a música que sempre toca já tem 40, 50 anos, sabe? E o motorista fala “não se faz mais música como antigamente”, essas coisas. Querendo ou não, as gravadoras tinham muita força com as rádios, e elas determinavam quem ia tocar. A gente não tem conchavo, contato, nem jabá com as rádios. Nós, os independentes. Então, acaba que a gente não toca em grandes veículos, a coisa ficou mais nichada mesmo. Uma pena. Porque acho que essas músicas que eu toco nesse show, acho toda essa galera que eu canto, muito maravilhosa, sabe? É preciso pensar o que aconteceu naquela época da mudança de gravadora pra streaming, a gente merece mais aplausos, há tanta gente genial, mas a coisa foi difícil, viver essa mudança não foi fácil.
Casa Natura Musical: A troca com o público é algo sempre muito marcante nas suas apresentações. Você sentiu que Letrux 20 Anos Alternativa evocou algo diferente na plateia?
Senti o entusiasmo das pessoas, meu público embarca nas minhas loucuras e fico feliz com isso. Muita gente não conhecia alguns artistas e senti a empolgação, muita gente pediu até registro, um álbum mas isso não é o caso agora. Foi mais pra ser um show de homenagem mesmo.

Casa Natura Musical: Ao cantar músicas que você não compôs, a experiência de estar no palco se aproxima mais à de atuar?
Pode ser que sim, mas não sei se enquanto canto penso nisso. “Ah, essa eu compus, essa eu não compus”. Acaba que quando canto é outra onda. Não fico pensando tanto no ato da composição, estou num outro momento, olhando na cara das pessoas presentes, é outro barato. Acho que sempre atuo um pouco, mesmo com as minhas, é da minha formação mesmo.
Casa Natura Musical: Você e a sua banda deram um novo ar a essas canções, criando arranjos que se encaixam no universo letruxiano. Nesse sentido, quais oportunidades criativas o Letrux 20 Anos Alternativa trouxe?
Confirmei que minha banda é maravilhosa mesmo, todo mundo produziu algumas faixas, como falei lá em cima. Foram dias, semanas, de muita criatividade, e ajeita aqui e muda ali, “e se a gente isso”, “e se a gente aquilo”? Amo fazer show, mas preparar o show também tem todo um sabor.
Casa Natura Musical: A Casa Natura Musical tem 8 anos, mas já foi palco de momentos marcantes na trajetória de muitos dos artistas que fazem parte do repertório de 20 Anos Alternativa. Pensando no ecossistema da música, como você enxerga o papel das casas de shows em celebrar os artistas independentes?
Ah, as casas de shows, principalmente uma casa como a [Casa] Natura Musical, são de extrema importância para artistas independentes. A gente não é nem novato e nem mainstream, então ter uma casa de tamanho de médio porte, mas com toda excelência para podermos levar e mostrar nosso show para as pessoas, é muito importante.