
Na segunda edição de Nos Bastidores da Casa, te levamos até o camarim para uma conversa exclusiva com Getúlio Abelha. O bate-papo aconteceu na passagem do artista no dia do show do artista por aqui, em fevereiro, quando ele lançou seu novo trabalho, Autópsia. Confira o faixa a faixa do EP!
Freak
Freak é a faixa que abre essa parte do álbum. Por quê? Ela introduz um pouco a ideia e por qual caminho o álbum pode ir. Sonoramente, talvez ela não seja a música que mais representa o álbum, inclusive, é a que mais destoa, mas eu acho que a letra dela diz um pouco por onde anda a minha cabeça.
Escolhi a cúmbia como ritmo principal porque trabalhei muito com ritmos do norte e do nordeste, e eu considero que vários ritmos latinos, tipo a cúmbia, são ancestrais a esses ritmos do norte e nordeste, que a gente dança e produz enquanto farreia, etc. E é isso, Freak foi minha favorita por muito tempo, mas ouvi tanto que enjoei. Agora que lancei Toda Semana, que é a próxima faixa, ela é a minha favorita.
Toda Semana é uma música que eu amo e odeio, porque é uma mistura muito inusitada. Uma coisa meio Charlie Brown Jr. com uma banda emo, e as batidas de forró puxadas para Calcinha Preta. Eu tô feliz porque as pessoas estão amando. A letra é a que mais fala sobre o jeito que vivo em São Paulo, porque literalmente São Paulo é isso: toda semana eu quero ir a uma festa.
Mas é mentira quando falo isso, porque na real, eu que sou um bandidão que sai sequestrando pessoas na noite, levando pra minha casa, para dar botes amorosos e sexuais [risos]. Vou me embolando em enrascadas afetivas e não sei o que é amor até hoje.

Engulo ou Cuspo conta com mais detalhes o golpe que eu dou na música Toda Semana. Mentira [risos]. Mas Engulo ou Cuspo é uma tentativa de me conectar com um som que ouço muito na noite paulista, que é o funk.
Convidei Katy da Voz e As Abusadas, porque além de me identificar muito com o quanto elas são elétricas, punks e brutas, no bom sentido, elas também estão crescendo muito nessa cena. Falam sobre esse estilo, sobre essa parte da noite aqui em São Paulo. E ninguém melhor que elas para enriquecer a história e a narrativa da música, são duas figuras essenciais.
Armação é um golpe sonoro nas pessoas que estão ouvindo, porque eu começo com um piseiro quase tradicional… A métrica, o jeito de cantar, é tudo bem tradicional até. Um piseirão mesmo. E aí, a gente mergulha nas variações eletrônicas para apavorar as pessoas que estão ouvindo. Eu sempre imagino que quando alguém começa a ouvir essa música, a tendência é puxar outra pessoa e começar a dançar um forrozinho junto. Gosto de imaginar um susto que um casal que tá dançando forró vai tomar quando a música mudar.
E a letra dela, acho que complementa a narrativa do álbum, também fala sobre ser deixado, sobre ficar só. No fim, é isso, o Marmota foi um álbum que falava muito de coletividade, dos bikers, dos laricados, dos filhos dos crentes, dos rebeldes. Agora chegou a hora de eu voltar pra mim.

Zezo fala sobre a partida de alguém. Escrevi a música de um jeito que deixasse margem para que as pessoas interpretassem como se fosse uma partida simbólica ou uma partida física também. Porque eu falo “alguém te matou”. Então, realmente, pode ter matado de várias formas – ou te adoeceu até tu se matar, ou te capturou e tu é refém dessa pessoa – enfim, tem brecha pra tudo. E coloquei um dubstep aí pra misturar com a seresta, que é inspirada no Zezo. Na fase da demo, eu chamava essa música de Zezo, e aí chegou a hora de escolher um nome, e fiquei: por que não manter Zezo?