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“Na primeira vez em que usei a internet no escritório do meu pai, achei que era a coisa mais legal do mundo”, escreve Jia Tolentino nas primeiras páginas de Falso Espelho (Todavia, 2019). No livro, ao longo de nove ensaios, a repórter millennial prodígio da New Yorker discute, sobretudo, como a internet deixou de ser uma promessa de democratização das conexões humanas, com um número infinito de sites, blogs e fóruns, para se tornar, ao invés disso, um “febril, elétrico e inabitável inferno”, monopolizado por duas ou três big techs do Vale do Silício, que mais aliena do que aproxima as pessoas.
É nessa mesma toada que Rodrigo Ogi e nILL lançam Manual Para Não Desaparecer (2025), primeiro disco colaborativo entre os dois rappers paulistas, cujo show de lançamento está marcado para o dia 1º de novembro aqui na Casa Natura Musical – garanta seu ingresso aqui. Em “Algoritmado”, talvez a faixa que melhor resuma o ethos do trabalho, o refrão pede para você desligar o seu celular e o smartphone é comparado a um “cachimbo de crack liberando microdoses de dopamina”. “As redes sociais, antes, elas te conectavam, né? Agora, elas não conectam mais. Só te deixam cansado. Estamos o tempo inteiro em frente da tela, cansados. É muito estímulo, o tempo inteiro”, comentou Ogi, em entrevista à Casa Natura Musical.
Rodrigo Ogi lançou seu primeiro disco, junto ao grupo Contrafluxo, em 2005, um ano depois de Mark Zuckerberg disponibilizar a primeira versão do Facebook para o mundo e quase uma década antes do lançamento do Instagram nas lojas de aplicativos. De lá pra cá, lançou três discos cheios em carreira solo: Crônicas da Cidade Cinza (2011), R Á ! (2015) e Aleatoriamente (2023). Seu primeiro trabalho, inclusive, lhe rendeu a alcunha de “cronista do rap”, que carrega até hoje. Nos três, propôs aproximações entre o rap underground com o samba torto paulistano.
Já nILL é um rapper nativo de internet. Desde Regina, seu primeiro trabalho, lançado em 2017, o jundiaiense Davi Rezaque de Andrade traz referências de anime, internet, videogame e lo-fi pro seu som – tanto nas letras quanto na sonoridade. Um exemplo disso é a própria montagem do disco: áudios de Whatsapp servem de samples e interlúdios, numa época em que esse recurso ainda não era tão explorado na cena do rap. Em Lógos (2019) e O Resgate do Maestro (2023), nILL continua recorrendo às tensões entre arte e tecnologia, o real e o digital, em suas composições.
Essas duas gerações e trajetórias artísticas distintas se fundem em Manual para Não Desaparecer, um álbum que se debruça, para além das mazelas provocadas pelo atual momento da web 2.0, em outros absurdos cotidianos da vida contemporânea, como coachs vigaristas, bad trips que parecem a nave da Xuxa, fama e a relativização do conceito de tempo. Além de, claro, ainda ter espaço para falar sobre aquele que é o tema universal da música: a desilusão amorosa. Tudo isso sem perder o humor.
Mesclando o universo sonoro de nILL e Ogi, com beats de boombap encontrando batidas de samba, samples de anime e ambiência de vaporwave, o projeto é majoritariamente produzido pelos dois artistas. Os beats também são assinados por Cravinhos (Maria Esmeralda), Ryan Beats, Munhoz (Professor M. Stereo) e Sono TWS (Febre 90’s); os scratches, por DJ Miya B e DJ Noveset; e a guitarra, por Thiago Ticana.
Amigos de longa data da dupla aparecem nos feats: Matéria Prima (ex-Quinto Andar) aparece rimando em “Adagas & Facas”; Jamés Ventura colabora em “Cartas que Bordam o Tempo”; e a poeta e slammer Roberta Estrela D’Alva (Manos e Minas) aparece declamando os primeiros versos de “E o Mundo Todo Sorriu”, música que encerra o trabalho.
Conversamos com os rappers sobre o novo disco, a nossa atual dependência das redes sociais, I.A. e sobre como a arte pode ser o caminho para nos tirar desse abismo cibernético. Dê o play em Manual para Não Desaparecer e leia a entrevista abaixo:
Casa Natura Musical: Queria que vocês começassem comentando sobre o nome do disco e sobre como é para vocês tentar não desaparecer num mundo regido por algoritmos, com uma avalanche de informação e de conteúdo produzida na internet, sendo artistas do underground do rap nacional.
nILL: A gente vem falando, conversando sobre isso, sobre como não se deixar ser engolido pelos algoritmos. E a resposta que a gente encontra é fazer o que a gente já vem fazendo desde sempre: continuar criando, continuar testando, independente da situação. Acredito que a arte é uma ferramenta muito forte para as pessoas se registrarem no tempo. Seja pela música, pela fotografia ou por outras formas. Ela representa essa âncora para você não desaparecer.
Rodrigo Ogi: É isso, continuar criando. Se você analisar, mercadologicamente falando, você percebe que hoje temos [no meio musical] uma linha de produção meio linear, que faz com que os lançamentos sejam todos meio parecidos. No meu ponto de vista, o que deveria acontecer é que os artistas deveriam se arriscar mais. Mas entendo também o medo de muitos artistas de se arriscarem e de ninguém abraçar a ideia, ter um estranhamento do público. Até porque o público já está acostumado a consumir o que é ditado pelo algoritmo.
Quando comecei a fazer rap, no começo dos anos 2000, [a internet] era uma luz de esperança que existia contra as gravadoras na época, porque as gravadoras monopolizavam tudo. Você colocava sua música na internet e ela conseguia chegar no pessoal lá do Nordeste, lá do Sul. E isso foi formando uma cena independente, tanto que foi quando houve um “colapso” das gravadoras ali. Só que agora, de uns anos para cá, sinto que elas tomaram o controle disso de novo. E, para você conseguir fazer seu som chegar nas pessoas, está cada vez mais difícil.
Manual para Não Desaparecer é um feixe de luz, um guia para artistas – mas não só – tentarem ser originais, fazerem as coisas acontecerem do seu jeito.

CNM: Vocês dois atuam no rap nacional há bastante tempo. Apesar de serem de gerações diferentes, o próprio Regina [primeiro disco do nILL, lançado em 2017], já tem quase 10 anos. Ambos já viram muitos momentos da cena: o domínio do boom-bap, o “ano lírico” em 2017, a ascensão e declínio do trap-funk, o grime, e agora um apontamento ao retorno do boom-bap. Isso influencia vocês e a maneira de vocês criarem?
Ogi: Então, o meu jeito de fazer música é conforme o que estou ouvindo, o que eu gosto de fazer. Nunca fui só pela tendência. Isso que eu tava falando, sobre o medo de se arriscar, medo da originalidade. Na minha época, o quesito básico era ser original. Se você fosse parecido com fulano, você não conseguiria espaço, já era jogado para escanteio. Então, todo mundo buscava ter um estilo próprio. O que eu vejo hoje é muito isso, essa perda de originalidade e tudo fica muito parecido. Lógico, não dá para generalizar. Às vezes, você ouve coisas novas e pensa “nossa, isso aqui é diferente, é legal para caramba”. Mas é um em cem, assim, sabe?
nILL: Artisticamente falando, para mim, as tendências limitam demais. Às vezes, a sua voz, o seu timbre, não se encaixam bem naquela sonoridade, por exemplo, no trap, que era o que estava em alta. E acaba não fazendo sentido.
Fazer algo que está vendendo no momento, eu não acho que seja errado. É plausível, porque os artistas precisam se manter, mas isso não pode se tornar um guia. Já vimos muitos artistas que sempre fizeram coisas comerciais ou no que tava em “tendência” e, no momento que parou de fazer, não consegue se desvincular, não consegue criar novamente. Ele fica preso ali naquela sequência de mercado.
Quando comecei a gravar, eu não tinha internet em casa, então não conseguia acompanhar o que estava acontecendo, as tendências. Acho que também não chegava muita informação para as pessoas. O rap daquela época era muito diferente, a nossa relação com a internet também era muito diferente. Isso que era louco. Tinha vários caras, vários rappers com estilos diversos. A gente conseguia citar dez nomes e todos eram diferentes entre eles. Dez, quinze anos depois, você pega dez artistas, dois realmente se diferenciam, o resto é tudo a mesma coisa.

CNM: A internet também era um lugar diferente, né? Mudou muito. Antigamente a gente entrava em vários sites, vários blogs e fóruns. Hoje em dia, a gente entra no Instagram, no TikTok, no Google e, agora, no Chat GPT, basicamente.
Ogi: Na época do lançamento do Crônicas de Uma Cidade Cinza (2011) e do RÁ (2015), tinha muito menos informação [na internet], mas muito mais atenção. Se você postasse sobre seu disco, seu show, no Orkut ou no Facebook, o seu público estava atento que ia ter aquilo. Hoje o algoritmo barra tudo isso. Você posta alguma coisa, se você não vai impulsionar, ele não vai entregar. Às vezes, muitos dos seus fãs não ficam sabendo que você vai fazer um show.
Outra coisa que eu percebi é que algumas músicas hoje em dia têm mais views num reels do Instagram do que no videoclipe oficial do YouTube, sabia? Acho que as pessoas estão começando a consumir mais a música por um trecho, por um fragmento de reels ou Tik Tok, do que a música em si. Vamos ver quais serão os desdobramentos disso.
nILL: Eu vejo que o desdobramento disso é: um mundo novo, com hits virais de TikTok invadindo as festas “da vida real”, influenciando o mercado, o modo de os artistas fazerem música.
Por outro lado, esse lance de consumir pela rede social é uma forma nova, e é interessante também. Como cada um tem o seu celular e pode fazer vídeos e publicar, pode acabar gerando uma movimentação que a gente não está esperando e nem imagina o que pode acontecer. A grande questão é o gap de trazer essas pessoas [das redes sociais] para ouvir as músicas nas plataformas de áudio, depois ir no show, comprar merch.
Eu e o Ogi temos duas discografias peculiares dentro da música. Tem muita gente que é fã de rap, tá ali nas redes sociais e nunca ouviu nosso som. Mas a hora que as pessoas encontram nosso trabalho, é como se essa encontrasse no ouro, tá ligado? Então, para nós, é uma forma diferente de atacar, uma forma nova que estamos tendo que estudar também, estamos testando.

CNM: nILL, você citou essa questão do gap de levar o público das redes sociais para ouvir seu som num serviço de streaming. Mas vocês enxergam que a indústria musical se tornou tão refém das big techs que comandam os tocadores digitais quanto era das grandes gravadoras no passado? E como vocês vêem toda essa nova problemática que elas produzem: a baixa remuneração aos artistas, a proliferação de playlists com artistas criados por Inteligência Artificial, entre outros. Alguns artistas já boicotaram os players e, mais recentemente, o músico Bruno Berle anunciou que não vai lançar seu próximo disco numa plataforma online, apenas em formato físico e analógico. Eu queria entender o que vocês pensam. Se é uma luta perdida ou se vocês enxergam alguma saída.
Ogi: Se não me engano, a Monna Brutal lançou um trabalho também que só está disponível no YouTube, de maneira gratuita. O desafio é buscar outros mecanismos, outros jeitos de distribuir. Só que o público também já está acostumado aos tocadores de áudios. Se você tira o seu som de um streaming X, que tem mais ouvintes, a sua música acaba não chegando, porque o público não está acostumado ainda a buscar outras maneiras de ouvir música. Existe um certo comodismo, porque o tocador tá plugado no carro, no celular, no PC. É mais fácil.
Acontece que é muito baixo o valor que essas plataformas de áudio pagam. E a gente ainda precisa pagar uma distribuidora para disponibilizar o nosso som. Artistas pequenos, que estão começando, precisam praticamente pagar para terem suas músicas tocadas. Uma hora, isso vai colapsar. O analógico pode ser uma solução sim, a distribuição de mão em mão, quem sabe?
nILL: Sendo bem pé no chão, aqui no Brasil, essa questão é muito delicada, ela é muito delicada, porque os artistas, principalmente os independentes, ficam nessa corda bamba, nessa sinuca de bico. Ainda não temos o poder suficiente para virar e falar “não, não sobe mais nesse streaming X ou Y”. Cara, porque a nossa vida está acontecendo, sendo bem pé no chão, né? A música é o jeito que a gente consegue pagar as nossas contas.
Mas tem alguns artistas que pensam mesmo fora da caixa e vão programando para essa saída, essa saída do streaming, esse retorno ao físico, ao analógico. Eu sempre acredito também no CD, né? O CD, eu acho que é um “bagulho” forte. A internet é volátil, amanhã pode tudo ser apagado, né?
Eu penso que o ideal seria chegar num momento de virada de chave para a classe artística ser realmente remunerada da melhor forma, sem precisar financiar as big techs. Mas é muito louco, porque hoje, não é só que a gente tá financiando mais, a gente tá trabalhando para esse sistema, para essa “corda invisível” do trabalho.
Ogi: A gente trabalha para o algoritmo, para as plataformas de rede social, fazendo vídeos, conteúdos, o tempo inteiro. Isso é cansativo também, sabe? Você lança o disco, ok. Aí, você têm que cumprir todas as agendas de divulgação do disco e, além de tudo, pelo fato de o algoritmo não entregar, você tem que ficar o tempo inteiro informando o público nas redes, postando uma coisa nova. Nessa nova conjuntura, vai sobrando cada vez menos tempo para o artista independente criar. Uma hora, não vai mais dar certo isso. Mas também acredito que a indústria sempre inventa alguma maneira para te manter laçado. É o grande desafio.
CNM: Agora falando mais do disco em si. Não é a primeira colaboração entre vocês dois, né? Lá no Regina (2017), vocês colaboraram na faixa “Loopers”. Me contem como começou e se desenvolveu a relação de vocês.
Ogi: O nILL, eu já conheci há um tempo, quando ele ia nos meus shows em Jundiaí. Daí, ele começou a colar mais em São Paulo também e a gente começou a trocar ideia e, desde as primeiras vezes, o meu santo bateu com ele. A gente veio estreitando isso, sempre se falando. Ano passado, tive essa ideia, de chamar o nILL para um projeto colaborativo. No começo, era para ser um EP, mas logo partimos para um disco cheio.
nILL: Quando fizemos a faixa “Loopers”, já tinha sido um desafio da hora. E ali, a gente teve uma conexão maneira também, musicalmente, né? Quando chegou esse convite, foi muito legal, eu fiquei empolgado pra c*ralho.
Acho que a música também serve muito pra conectar, né, mano? E aí, a gente foi se conectando além da música, na vida também. É uma troca. Cada um com estilos diferentes, mas parecidos também. Fomos trocando figurinha o tempo inteiro e o disco foi fluindo. Foi um disco relativamente rápido. A gente começou em novembro do ano passado e terminou acho que em junho deste ano.

CNM: Vocês dois são de duas gerações diferentes e com referências artísticas diferentes. Ogi, você começa a rimar nos anos 2000 e, ao longo dos seus trabalhos, sempre bebeu da chamada “golden era” do rap, mas colocando um pé no samba de São Paulo. E nos seus dois últimos trabalhos, você estreita um diálogo com uma cena de vanguarda paulistana, com colaborações com Thiago França, Kiko Dinucci e Juçara Marçal. Já você, nILL, sempre trouxe referências de anime, de internet, videogame e lo-fi pro seu som. Como vocês conseguiram pegar todo esse caldeirão de referência dos dois e unificar em um trabalho que ficasse coeso?
Ogi: Foi nessa troca de figurinha. Tiveram coisas que o nILL me apresentou que eu gostei, mas eu pensava “putz, isso aí não é muito a minha cara”. Só que, no processo, comecei a me permitir, a testar essas novas sonoridades. O contrário também aconteceu. A gente sempre conversava muito sobre as letras, sobre o que ia falar e cada um que chegasse com um verso a gente procurava continuar o que o outro tava falando, sabe? Para manter uma linha coesa. As faixas conversam entre si direitinho.
nILL: E eu acho que a parte mais desafiadora mesmo foi achar a sonoridade que agradasse as duas partes, porque também, como os dois têm muita bagagem criativa, precisamos alinhar esse trajeto muito nessa ideia de se testar, se permitir. E acho que essa foi a graça do “bagulho”, porque foi fazer música como se fosse uma pessoa só, né? Uma fusão.
Ogi: Podia soar muito desconexo tudo isso, podia soar só como um catado, sabe?
nILL: Uma coisa que eu sempre senti falta no rap nacional foi a junção de rappers que fizessem trabalho juntos, trabalhos maiores juntos. Na gringa, a gente vê alguns fazendo e é sempre uma mistura peculiar quando acontece isso. Acho que enriquece também a cena.

CNM: Eu senti que, apesar de um certo pessimismo em relação à nossa dependência das redes sociais e das telas, principalmente em “Algoritmado”, o disco acaba com num tom otimista, com “E o Mundo Todo Sorriu”. Vocês veem alguma saída pra esse mundo “algoritmado”?
nILL: Na altura do campeonato, acho que a saída mesmo é o retorno pro analógico. Fazer as coisas no tête-à-tête. Mas também que a gente encontra é entender como utilizar melhor essas ferramentas, tentar dosar as duas coisas.
Ogi: Até porque a internet não conecta mais. A rede social, ela te conectava, né? Agora, ela não conecta mais. Se você reparar, as pessoas estão sempre cansadas. Se você tá o tempo inteiro atrás da tela, você vai ficar mais cansado. Eu ouço muita gente dizendo que tá cansada, muitos amigos, muitas pessoas que eu converso, As informações, elas não te conectam mais com outras pessoas. Elas te deixam cansado. É muito estímulo, o tempo inteiro. Pode ser que isso, num futuro próximo, faça as pessoas quererem ficar desconectadas da internet e começar a ter mais contato real.
nILL: Eu vejo também o pessoal da minha idade, com 30 anos mais ou menos, ficando meio de saco cheio com a internet, com a rede social, porque é muita propaganda. E não digo propaganda só aquelas que aparecem do AD. É propaganda de tudo: a gente panfletando nosso show, misturado com a Virgínia, que tá vendendo os produtos dela. Isso daí acaba enchendo o saco.
Ogi: É muito louco a sensação que dá, porque eu tenho amigos que saíram do Instagram, e eu continuei mantendo contato com eles, mas o que eles me falaram era que várias pessoas pararam de falar com eles como se eles tivessem morrido mesmo, sabe? Como se eles não estivessem mais ali. E é aquele lance: tudo tem que ser validado pela tela. Você tá no almoço, o almoço só parece que só existe se você tirar uma foto do prato. Você tá numa viagem, a viagem parece que só existe se você ficar mostrando tudo. A gente tá trabalhando de graça para as big techs.
CNM: Queria entender o que vocês pensam sobre a relação da inteligência artificial com o fazer artístico. Vocês vêm com muito pessimismo ou com alguma possibilidade?
Ogi: Acredito que várias ferramentas de música, de inteligência artificial, elas agregaram. Comecei a usar algumas que eu consigo criar samples, sabe? Eu vou lá e escrevo que quero um trompete assim ou assado e ela me entrega. Lógico, não vou usar integralmente do jeito que a I.A. me entregou, porque daí fica muito mastigado. Mas isso é mais uma ferramenta que ajuda. Acredito que usando do jeito certo, a I.A. pode agregar muito. Não sou inteiramente contra, sabe?
nILL: A grande questão da I.A., eu acho que, além de mexer com a arte, ela mexe com a cabeça das pessoas. Não só na música, em várias áreas. Eu troco ideia com uma amiga que trabalha na área judicial e ela comentou que muitas pessoas preferem usar a I.A. para redigir contratos do que usar a própria mente, mesmo tendo estudado anos para isso. É esquisito. Na música, acho recomendável utilizarmos apenas como ferramenta mesmo. Por exemplo, a gente tem o Moises, que é uma plataforma que separa as trilhas. É uma ferramenta revolucionária, para o rap, principalmente. Então, como ferramenta, é uma baita de uma mão na roda, mas tem que ser usada com moderação mesmo, para não entrar na mente, não “chapar”.