Foi no baile black: Rael fala sobre a importância e a estética dos bailes black de São Paulo

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Foto: Dani Lopes

Você conhece a música Foi Num Baile Black? A faixa integra o clássico Boogie Naipe (2016), álbum que mostra o soul-funk do rapper Mano Brown. A música nos introduz a um universo noturno, com a pista cheia, muito swing, roupas elegantes e um personagem que foi ao baile rever e dançar de novo com uma antiga paquera. Este é o cenário de um tradicional baile black paulista.

Esse mesmo universo foi remontado por Rael, no dia 30 de setembro, a Casa Natura Musical teve a honra de receber o Baile do Rael – Geral Envolvidão, uma festa promovida por Rael para resgatar a cultura do baile black na noite de São Paulo e celebrar seu aniversário. Com discotecagem da DJ Lys Ventura e da tradicional Festa Sintonia (com KlJay, DJ Ajamu e DJ Will), Rael lotou a pista da Casa, discotecou, cantou clássicos da black music e ainda fez geral dançar os passinhos de baile na pista. 

DJ Lys Ventura

Festa Sintonia

Kljay
DJ Ajamu
DJ Will

Antes do show acontecer, nós fomos até o camarim do Rael bater um papo sobre a importância da estética e da cultura dos bailes black, sobretudo para a comunidade preta da capital paulista. Em clima de comemoração, o artista nos recebeu todo trajado de branco, como pede a tradição dos praticantes e simpáticos às religiões de matriz africana que vestem o branco de Oxalá toda sexta-feira. Rael nos contou sobre a influência dos símbolos e da estética que a cultura do baile black tem em sua vida.


“Baile foi uma coisa que me moldou em vários sentidos, a cultura black, a estética, a coisa do amor próprio. Quando tem um baile você coloca sua melhor roupa, você quer ouvir as melhores músicas, quer estar rodeado de pessoas bonitas, é onde as relações começam e terminam. Eu conheci pessoas [no baile] que marcaram minha vida e ficaram até hoje”, pontua.

Foto: Dani Lopes

O artista revela que as mulheres da sua família foram sua primeira referência quando o assunto é baile e cultura preta. Rael fala sobre sua tia, uma trancista que cuidava dos cabelos da família, da galera do bairro e também promovia alguns bailes, segundo ele, sua tia tinha o poder de ser um elo entre as pessoas, foi dela que o artista herdou o gosto por artistas como James Brown e Marvin Gaye. 
Além de sua tia, o Mc conta que suas maiores influências culturais e estéticas surgiram ainda em sua infância, Rael passou a frequentar o pátio da São Bento, berço do hip hop paulistano, e lá encontrou referências como Nelson Triunfo e Mc Bronks.

“Com 8 anos eu ia pra São Bento e lá eu já encontrava o Nelsão com o cabelão, a primeira vez que vi ele na televisão foi na TV Manchete, fazendo o moinho de vento e dançando break”, afirma Rael.

Bailes tradicionais como Chic Show, Asa Branca e a própria festa Sintonia marcaram gerações. Nos anos 70 e 80 a cultura de baile e a black music foram fundamentais para a autoestima e autoconhecimento da comunidade negra, esses espaços de sociabilidade e formação resistiram ao longo de mais de três décadas e possibilitaram o acesso ao conhecimento sobre a cultura negra para além dos estereótipos.

“Não era só a música, era muito além disso. Eu me sentia fazendo parte de alguma coisa, porque na minha quebrada era todo mundo trabalhando, na correria e ninguém ligava pra cultura black, pro cabelo black e tal. Ninguém conhecia, então eu sentia que estava desobedecendo lá, quando eu ia pro Sintonia ou pra qualquer outro baile black, o Class, o Radial, Palácio ou Asa Branca, eu pensava ‘é disso aqui que eu faço parte’. E aí vem todo o conhecimento, o amor próprio”, finaliza.

Há 20 anos a festa Sintonia, comandada pelo DJ KL Jay, seu filho DJ Will e DJ Ajamu é referência em black music na noite de São Paulo. Não à toa, Rael convidou a festa para agitar a pista do seu baile, o artista era frequentador assíduo da Sintonia, ele conta que toda quinta-feira fazia questão de sair do Grajaú, no extremo sul, para ir assistir o Kl Jay discotecando em um bairro distante. Para Rael, DJs como Kl Jay cumprem uma função pedagógica, como um professor que direciona e inspira.

“Hoje ter o Sintonia aqui é a realização de um sonho, porque é uma festa que eu batia cartão, com dinheiro ou sem dinheiro, eu estava lá. E eu voltava às vezes pensando, com alguma ideia que o KL Jay dava durante a festa”.

Foto: Dani Lopes

Sobre as referências de conhecimento e estética ancestral, Rael nos conta que músicos como Sun Rá (precursor do afrofuturismo), Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, DJ Hum, Nelson Triunfo, Thaíde, Racionais Mc’s e tantos outros, usaram a música negra como ferramenta de transformação e resgate de saberes. Além da música, os encontros promovidos entre pessoas de bairros diferentes e a troca de saberes entre DJs, Mcs e público foram essenciais para a revolução estética, cultural e intelectual gerada pelos bailes black, sobretudo na comunidade negra. No universo do baile black, cada noite é única.

“Você prefere ir ou vai querer que seu amigo te fale como foi? O baile é isso!”

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Texto por: Amanda Figueiredo

Fotos: Dani Lopes

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