Do cinema à novela: o universo criativo de Rachel Reis

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Rachel Reis na Casa Natura Musical (2023) | Foto: Karoline Leal

Rachel Reis subiu no palco da Casa Natura Musical em abril deste ano, acompanhada de sua banda completa, lotou a Casa e mostrou a que veio. Somos fãs do álbum “Meu Esquema” (2022) e fizemos questão de ir até o camarim da sereiona para saber mais sobre suas referências musicais, audiovisuais, narrativas, crenças e tudo que influenciou esse projeto que arrasta uma legião de fãs por onde passa.

Aos 25 anos, Rachel vem se destacando na cena alternativa da música brasileira, a artista de Feira de Santana busca referências do pagodão baiano, do arrocha e outros gêneros para propor novas estéticas musicais para a música popular brasileira. Após lançar seu primeiro EP, intitulado “Encosta” (2021), Rachel se posicionou como artista expoente da cena — a faixa bônus “Maresia” foi determinante para o sucesso do projeto. Em 2022 Rachel lançou seu primeiro álbum “Meu Esquema” sendo indicada na categoria Artista Revelação do Prêmio Multishow do mesmo ano, desde então a cantora tem ganhado projeção nacional.

Rachel Reis na Casa Natura Musical (2023) | Foto: Karoline Leal

CNM: Em entrevistas você comentou da sua dificuldade e de quem te escuta para definir qual é o seu tipo de música, porque realmente tem várias referências, o afrobeat, arrocha, pop, mpb, pagodão. Mas queremos saber se tem alguma obra ou algum artista que são suas maiores referências para encontrar sua identidade na música.

Rachel Reis: Eu sempre falo com as pessoas que eu me considero muito eclética, a vida toda fui assim, e eu acho que todo mundo é um pouco assim hoje em dia porque vivemos na era do streaming, tudo chega muito rápido e muito fácil. Minha irmã canta piseiro, minha mãe cantava seresta, forró e pop nos shows dela e depois virou uma cantora evangélica que cantava nas igrejas e eu acabava fazendo uns vocais para ela na igreja. Além disso, eu  sempre fui uma pessoa que gostei muito de pesquisar, de olhar trilha sonora de filme, sempre fui noveleira e acho que isso influencia muito na hora que a gente vai compor, na hora que a gente vai ver uma produção. Mas também tem aquelas pessoas que a gente bebe direto da fonte, eu sou apaixonada por Jorge Ben, na composição dele, na forma fácil que ele fala sobre a vida, como ele fala sobre o amor. Eu sou apaixonada por Mayra Andrade, Céu também é uma das minhas maiores referências na música brasileira, minha mãe Maura Reys, que eu peguei essa influência dela, Milton Nascimento, Baiana System então esses e mais algumas pessoas que eu bebo direto da fonte.

Rachel Reis e Céu | Foto: Instagram @rachelreisc

CNM: Desde “Ventilador” e “Sossego”, que foram os seus primeiros singles, o seu repertório é muito pautado em afetos. Sua lírica é sobre vivências e experiências pessoais ou você busca outras fontes?

Rachel Reis: Tem muita coisa que eu invento da minha cabeça, tem muita coisa que eu faço como se fosse alguma resposta para mim, tem coisas que foram baseadas na minha vida, tem coisas que eu pego da vida dos outros e vai dando aquele caldeirão e quando tu vê a música já tá pronta.

CNM: O que significa para você ser uma mulher preta que canta seus afetos e que fala sobre amor de forma tão livre?

Rachel Reis: Eu acho isso importante porque, uma coisa na minha carreira que me marcou ali quando eu comecei, algumas pessoas comentavam assim “Poxa, ela é uma menina preta, ela tá falando de amor e isso não deveria ser assim”, isso me pegou um pouco porque parece que a gente não pode falar sobre isso, né? A gente não tem direito a nossa complexidade de amor, de ódio, daquilo que vem da gente, tem que ser um script, um roteiro, do que uma pessoa preta pode falar. Então eu meio que me desliguei disso e eu gosto de cantar aquilo que mexe comigo. Se em algum momento eu quiser cantar sobre coisas mais tristes ou sobre dores e coisas mais pessoais, eu vou fazer isso, mas eu acho que a gente precisa cantar aquilo que vem da gente, sobre o que a gente quer falar naquele momento.

CNM: Sabemos que você é bem cinéfila, que curte muito o audiovisual e esse universo. Como foi o processo de criação dessa parte visual do seu novo álbum e quais foram as suas inspirações e referências?

Rachel Reis: Sou muito cinéfilazinha [sic], assisti muita sessão da tarde, Lagoa Azul, então na hora de me conectar com as pessoas que fazem audiovisual, tive a sorte de encontrar pessoas que caminham ali na mesma linguagem que eu. Mando as referências para essas pessoas, mas é sempre muito certeiro. Maresia mesmo foi uma música que o universo imagético de “Y Tu Mamá También”, que é um dos meus filmes preferidos, influenciou muito, então procuro mandar umas referências e aí chegam pessoas que se conectam comigo e a gente vai caminhando bem.

CNM:  Em seu trabalho, a gente percebe que existem muitas referências sobre as águas e sereias, tanto nas músicas, quanto na estética da capa do álbum, clipes e o apelido que seus fãs te deram de “sereiona”. Como surgiu essa referência para você colocar no seu trabalho?

Rachel Reis: Isso foi tão aleatório, Fernando, meu primeiro produtor e meu amigo que começou esse negócio de sereiona, todo mundo começou a me chamar assim e acabou acontecendo indiretamente, não foi uma coisa planejada. Isso foi antes da minha carreira, na verdade, e eu fiz até uma tatuagem de uma sereiona, mas foi muito natural, não teve essa referência direta, as pessoas acabaram associando e a gente foi deixando.

Ensaio para capa do álbum “Meu Esquema” | Foto: Alex Vecchi

CNM: A gente percebe como a música “Serenidade” é importante para você e parece ter um lugar de oração tanto para você e até para os seus fãs também. Como as suas crenças influenciam o seu trabalho?

Rachel Reis: Totalmente! Serenidade me deixa muito conectada, não tenho religião, mas tem uma passagem que eu acho muito bonita que diz assim “Serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar o que eu posso e sabedoria para um conseguir distinguir uma coisa da outra”, então eu me baseei muito nisso para criar essa música e acabou virando meio que uma oraçãozinha mesmo.

CNM: Vi recentemente que você ficou super emocionada com um projeto que crianças de um colégio de Feira de Santana, a sua cidade, fizeram sobre você e também que o Xand Avião regravou “Maresia”. Como é para você ver o seu trabalho chegando em lugares tão diferentes, mas tão importantes e poder ser uma referência?

Rachel Reis: Lindo! Até esses dias eu tava ali numa escola em Feira de Santana com aquela fardinha, eu me vi muito naquelas crianças, ficava imaginando, eu tinha as minhas referências quando eu tava ali naquele lugar e ver que eles me colocaram nesse lugar me deixou realmente emocionada, na hora que eu vi a foto eu caí em lágrimas, eu tava comendo um pão e comecei a chorar (risos). E Xand Avião ter regravado, eu só acreditei depois que saiu, é estranho de acreditar, mas é bonito demais.

Alunos de uma escola de Feira de Santana | Foto: Instagram @rachelreisc
Projeto sobre Rachel Reis | Foto: Instagram @rachelreisc

Texto por Renata Rosas para a Casa Natura Musical

Edição: Amanda Figueiredo

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