Sambas de Noel Rosa, gravado por Aracy de Almeida, pode ser considerado um dos primeiros discos conceituais lançados no Brasil. Até 1951, antes do lançamento do primeiro LP brasileiro, o Carnaval in Longing Playing, as músicas eram comercializadas no formato de 78 rotações, que tinham espaço para uma faixa de cada lado. A maioria dos discos em 78 rpm eram geralmente vendidos acoplados em envelopes que, geralmente, apenas identificavam a marca de seu fabricante. Já ‘Sambas de Noel Rosa’, que foi lançado em 1950 em três discos de 78 rpm e em LP 10¨ em 1954, trazia como capa uma pintura de Di Cavalcanti, um dos maiores nomes do Modernismo no Brasil. Um verdadeiro luxo pra época.
Capa: Di Cavalcanti
Di Cavalcanti era amigo da Aracy e foi convidado para ilustrar a capa do disco. Nela, retrata um homem empunhando um violão, com traço simples e estilizado, marca da linguagem gráfica de Di. Assim com parte da obra do artista carioca, a pintura da capa dialoga diretamente com a fase cubista de Pablo Picasso, marcada pela geometrização da forma.
Além da capa de Di, o que torna o disco conceitual é o fato de trazer a cantora Aracy de Almeida interpretando, do começo ao fim, apenas canções compostas por Noel Rosa, um dos maiores compositores do gênero. O disco resgatou a importância de Noel, que tinha caído no ostracismo depois de sua morte, em 1937. Segundo demonstram seus biógrafos João Máximo e Carlos Didier, pouca gente gravou Noel na década de 1940. Foi a partir dos anos 1950 que a sua obra passa a ser mais difundida pelo país e Aracy de Almeida, a ser conhecida como a sua maior intérprete.
Ouça:
Texto publicado originalmente no Instagram @casanaturamusical no dia 15/04/2020.