Mulheres negras no samba e a arte do aquilombamento

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No mês que marca o Dia da Consciência Negra, lembramos que o samba é fruto das estratégias políticas que têm origem nos quilombos, terreiros e territórios de articulações negras e ancestrais. Esses espaços de resistência, de bem-viver coletivo e de preservação de memória, são majoritariamente matriarcais, em que mulheres negras têm voz ativa e atuam como lideranças políticas e religiosas. 

A origem do samba é o símbolo que demarca bem a importância política das mulheres negras e dos espaços de aquilombamento. O primeiro samba gravado no Brasil, a clássica “Pelo Telefone” (1917), é uma composição de Donga e Mauro de Almeida que nasceu em um dos encontros promovidos por Tia Ciata

Foto: divulgação / acervo da Organizção Cultural Remanescentes de Tia Ciata | Arte: Ana Schuller

Nascida em 1854, no Recôncavo Baiano, Tia Ciata era filha de Oxum e se tornou uma liderança religiosa ainda jovem, foi consagrada Iyalorisá pelas mãos do grande babalorisá africano Bangboshê Obitikô. Aos 22 anos Tia Ciata migrou para o centro do Rio de Janeiro, na região portuária que ficou conhecida como “Pequena África”, ali ela formou uma comunidade forte e transformou para sempre a história da música brasileira. Foi ela quem usou sua própria casa como ponto de encontro para que músicos, compositores e pessoas negras que migraram da Bahia para o Rio de Janeiro pudessem dialogar, gerar estratégias de vida e promover suas batucadas.

Através de sua ancestralidade e sua função de liderança religiosa, em certo momento Tia Ciata teria ajudado o então presidente da República, Wenceslau Brás, com um machucado na perna que não cicatrizava e se curou através dos conselhos da Iyalorisá. Como forma de agradecimento, o presidente concedeu qualquer pedido, Ciata então pediu um emprego no serviço público para o marido e a garantia de que poderia realizar as batucadas em seu quintal. Assim suas festas se tornaram um espaço seguro, apesar de o samba ser criminalizado na época.

O cuidado e a gestão desse espaço político e cultural deu à Tia Ciata o título de matriarca do samba, hoje ela é devidamente reconhecida como uma liderança política e religiosa. A ala das baianas, que existe nos desfiles de carnaval até os dias de hoje, são uma homenagem à Tia Ciata e às chamadas “tias pretas” que, assim como ela, cuidaram e protegeram suas comunidades a todo custo.

Nos anos seguintes vimos surgirem nomes como o de Dona Zica, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Leci Brandão, Alcione e tantas outras mulheres negras que se destacaram por seu pioneirismo, ousadia e pelo cuidado com suas comunidades. A história nos mostra que a origem e a continuidade do samba se dá através das mãos e das vozes das mulheres negras, seja como liderança política, agentes culturais, intérpretes, compositoras ou musicistas, elas são um dos principais pilares do gênero musical. 

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Texto: Amanda Figueiredo
Artes: Ana Schuller

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