Choro de mulher: uma entrevista com Nilze Carvalho

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Foto: Gustavo Miranda/Agência O Globo

O choro está na vida de Nilze Carvalho desde muito cedo. Ela começou a tocar cavaquinho quando ainda era criança e, aos 11 anos de idade, lançou seu primeiro disco, Choro de Menina (1981). A precoce instrumentista cresceu, abraçou o bandolim e passou a se aventurar em outras vertentes da música popular brasileira, principalmente no samba. Tanto que no começo dos anos 2000, quando integrava o grupo Sururu na Roda, Nilze foi uma das vozes que participou do processo de renovação do samba carioca, a chamada geração da Lapa, junto com Teresa Cristina, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho, Mariana Bernardes, entre outros.

No dia 23 de abril, Nilze é uma de nossas convidadas nas lives especiais sobre o Dia do Choro, falando sobre o pioneirismo e o legado de Chiquinha Gonzaga, a matriarca do choro e primeira pessoa a compor uma marcha carnavalesca com letra no Brasil.

Leia a entrevista abaixo:

Casa Natura Musical: Qual foi o seu primeiro contato com o choro? E qual foi o primeiro choro que te chamou a atenção, ainda na infância, seja pela interpretação, seja pela composição?

Nilze Carvalho: Eu tive contato com a música desde sempre. Meu pai tocava trompete e nossa casa era repleta de música. As músicas que tenho lembrança mais remota são “Apelo” e “Lamentos”.

CNM: Qual você acredita ser a importância de se ter um dia dedicado a este gênero musical?

NC: Acredito que a data seja importante para reafirmar que o choro precisa estar mais em voga, o dia nos lembra que precisamos manter e difundir o gênero que atualmente não vem recebendo o devido destaque.

CNM: Em quantidade, não é expressiva a presença de mulheres entre os autores de choros, fruto certamente do machismo da época (e de ainda hoje) — apesar de termos figuras importantes como você, Luciana Rabello, Chiquinha Gonzaga, além de um número crescente de mulheres nas rodas de choro. Você poderia falar um sobre como foi a sua experiência? E quais artistas mulheres você acha que devemos conhecer melhor?

NC: Bom, a minha história é bem peculiar devido à idade em que eu comecei a tocar. Não senti muito essa questão do machismo e preconceito porque eu era uma criança e as pessoas me recebiam bem. Sei que isso foi diferente para outras instrumentista, mas o cenário vem mudando ao longo dos anos com as mulheres instrumentista/compositoras se destacando cada vez mais.

Precisamos ver mais os trabalhos do “Choro das 3”, Badi Assad, Dani Spielman, Maria Teresa Madeira, Moema Macedo entre outras.

CNM: Apesar de ser considerado o primeiro gênero de música popular brasileira, muita gente enxerga o choro hoje como um gênero restrito a camadas mais abastadas. Na verdade, não só hoje: vi uma entrevista de Dona Ivone Lara ao Lázaro Ramos na qual ela conta que tocava choro com seu tio quando era jovem e que ele a proibia de tocar samba por ser “vulgar”. Como você enxerga esse processo de certa elitização do choro?

NC: Pois é. Talvez por ser um gênero musical um pouco mais rebuscado, acabou ficando com essa cara de música que precise um pouca mais de apreciação. Mas as rodas de choro pela cidade continuam a acontecer com muita liberdade de improviso.

CNM: Há muitos comparativos entre o choro e o jazz. Sabe-se que o choro é cada vez mais tocado em diversos países do exterior. Como você vê, de maneira geral, as interpretações de estrangeiros sobre o choro? E você acha que o choro atualmente é mais respeitado no Brasil ou lá fora?

NC: Fico muito feliz quando vejo algum músico estrangeiro tocando a nossa música mesmo com “sotaque”. Isso mostra o quão bonita e contagiante é o choro. Com certeza o respeito pelo choro vem crescendo entre os músicos estrangeiros.

CNM: Quais são os seus projetos, atualmente? No que você está trabalhando?

NC: O último trabalho foi o CD/DVD 40 Anos Ao Vivo lançado pela FinaFlor e paralelamente eu tenho feito o show “Choro Canção” no formato de trio. Para o próximo ano, tem EP com músicas autorais.

Texto originalmente publicado na newsletter #20 da Casa Natura Musical, disparada no dia 23 de abril de 2020.

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